2.2.08

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Cheiro de lona de freio! Clima abafado!
Ela sai do ônibus e cai o céu em gotas grandes e pesadas. Abre o guarda-chuva e procura um taxi. Diz logo pra onde quer ir e a rodada encarece devido ao trânsito engarrafado, a chuva que não parava e todos aqueles sons que mesmo com os vidros fechados insistiam em entrar e se misturar com o noticiário no rádio.
Bate a porta e agradece. Olha o prédio por alguns instantes e sente um pouco a chuva enquanto segura o guarda-chuva fechado.
Alguém abre a porta e oferece a entrada. Ela vai subindo os degraus devagar, prestando atenção em tudo como outrora não havia feito. Ainda conseguia ensaiar algum tipo de conversa sobre o tempo louco e as últimas manchetes jornalísticas com a senhora que parou no primeiro andar.
Ela subiu dessa vez mais devagar... respirou fundo enquanto um filme passava em sua cabeça. Estava só e decidida. Lá estava a porta fuzilando-a com seu olho mágico e ela imponente em posição de ataque. Tocou a campainha. A maçaneta girou devagar. Ele ficou parado à porta assustado. Ela entrou sem pedir licença. Jogou a bolsa sobre a mesa. A porta fechou.

(...)


“Cansei das suas canções, das suas dicas, das suas entrelinhas, cansei desse jogo dissociado, eu sou péssima jogadora. Cansei de ter que lembrar do que nem sei se é verdade. Cansei dos seus pedidos, cansei dos seus sorrisos, cansei! Cansei das minhas dúvidas, especulações... Viajei 97 km, peguei engarrafamento, chuva; todo o tipo de cheiro impregnado no meu nariz, no meu cabelo, nos meus poros... Só pra olhar dentro dos teus olhos e perguntar: o que vc quer??? O-q-u-e--v-o-c-ê--q-u-e-r???"


Senta no sofá. Lança o olhar em direção a janela. As gotas agora menores chocam-se no vidro e escorregam lentamente.

(...)

Quem sobrevive de enigmas?