O ano começou com chuva.
Aceitei-a como quem está pronta para o novo, deixei-me lavar, molhar, umedecer,
nutrir, regar...
O primeiro semestre seguiu
sorrateiro, mas não discreto. Houveram dores profundas, saudades, medos,
rancores, angústias, lutas secretas e lutas abertas. Findou.
O segundo semestre chegou sendo
abraçado, pois há muito eu o esperava. Foi o tempo das renúncias, de cuidar das
feridas, de entregar o que não me pertencia, lançar fora as ingratidões e tudo
o que era sobra, mas sobretudo, foi o tempo de doar... Doei tempo, doei
pertences pessoais, doei palavras, doei abraços, doei silêncios, doei palavras,
doei sorrisos, doei ... E de tanto que doei, recebi.
Recebi novas metas, ideais e
sonhos. Recebi o equilíbrio generoso da volta para si mesmo. Resgatei com calma
e paciência os pedaços que deixei soltos durante tantos semestres de anos
passados. Costurei pacientemente os retalhos que embora bonitos e
diversificados, não estavam conectados e mal se reconheciam como pertencentes
àquele lugar. O fim do trabalho foi uma colcha com a qual posso me aquecer,
caso volte a esfriar.
Agora olhando esse todo que é um,
posso aguardar o amanhã sem pressa, aceitando-o como quiser vir, sorrateiro ou
intempestuoso, esse novo, todo novo, que tem seu lugar reservado no porvir.
Solstício de Verão de
2014